17# carta para a pessoa que te deu a melhor memória
Minha avó, 10 de Junho de 2011
Escrevo para te perguntar como está tudo por aí. Desde que foste ao Alentejo rever a prima Umblina que peço para voltares. Percebi nos últimos dias que me ensinaste tudo aquilo que sei, mas esqueceste-te de me ensinar a viver sem ti.
O tempo passa e cada vez mais acredito que a minha missão aqui é salvar-te. Provavelmente perguntas-te por que razão digo isto agora. É simples. Nunca ganhei coragem para te agradecer, agradecer tudo o que tens feito por mim.
Pensas que não dou valor a todo o carinho que me dedicas? Pensas que não ligo a todas as vezes que me penteias os cabelos? Pensas que esqueci de todas as noites que ficaste acordada a ver-me dormir com medo que eu acordasse com dores de tão doente que estava? Pensas que não sinto a culpa de tu ainda hoje não andares sobre os meus ombros? Então enganas-te. És o meu orgulho, és a minha força, és quem mais amo.
Sei muito bem que o que mais me vai custar nesta vida será ver-te partir, por aquela estrada infinita e recta, para junto da nossa Sabinina. Sabes que me vai custar acordar de manhã e não te encontrar. Sabes que não vai ser fácil sair de casa todos os dias sem te ouvir dizer: “Até logo neta, boa sorte, porta-te bem”. Sabes que o que menos quero é chegar a casa e não te encontrar cá, como sempre, à minha espera, e sentir aquela vontade incontrolável de te contar todos os pormenores do meu dia. No fundo, sou eu que te trago o mundo, sou eu quem vive por ti. Sei que sou o teu sorriso, sou a tua vontade. Há catorze anos que vives por mim, e há catorze anos que aprendi a viver para ti.
Espero que voltes rápido. Com saudades de tudo aquilo que nunca deixaremos de ser quando estamos juntas.
Margarida Salsinha
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