6# carta para um estranho
Querido tu*,
Sei que não me conheces. Sei que não sabes como sou. Mas descansa, ninguém sabe. Mas posso começar por dizer que me chamo Clara, e só Clara (não gosto de apelidos, é só para complicar). Não gosto de dizer a minha idade porque julgam que sinto e vivo as mesmas experiências que uma adolescente de 16 anos. Vivo com os meus pais e a minha irmã, mas é como se só vivesse com a minha irmã. Os meus pais trabalham imenso e posso dizer que nem os conheço, é muito raro vê-los. Por isso, quando tenho um problema ou preciso de desabafar faço-o com a minha irmã. Mesmo assim é algo que acontece muito raramente, quando não me apetece escrever. Escrever-lhe.
Chama-me o que quiseres, já que não importa, mas sinto que tenho duas maneiras distintas de sentir: tanto posso decidir ser prática e ver o mundo tal e qual como ele é na realidade ou então posso querer dificultar o passeio e escolher o ponto de vista de alguém apaixonado. Nunca sei como irei estar amanhã, mas um dia hei-de descobrir onde se escondem as razões para a mudança do meu estado de espírito.
Ficas já a saber que hoje só me apetece gritar, apetece-me fugir e dizer que odeio este mundo e outro que vem a seguir e o anterior a este. Odeio tudo porque me fazem sentir assim, uma adolescente de 16 anos que não sabe o que é a vida. Mas na verdade até sei.
Sei porque em tempos descobri esse lado negro, o de amar. Onde tudo parece cor-de-rosa mas a cor acaba sempre por escurecer, até chegar a negro. Descobri que a seguir ao amor vêm sempre mil desilusões, cada uma pior que a outra. No fundo, é isso que sou, é isso que vês e será sempre o que o Diogo não conseguirá ver.
Quem é o Diogo? Alguém que nunca me ensinou o significado do verdadeiro amor a dois. Do companheirismo, nem mesmo do ciúme. Eu amei o Diogo. Agora estou a viver as mil desilusões e encontro-me na zona negra do mundo cor-de-rosa.
Sou assim, confusa, mas muito decidida.
Prazer,
Clara
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