estou feliz porque te conheci
se tu conseguisses calcular a raiva que sinto. mas infelizmente não consegues. posso tentar mostrar:
será que guardaste alguma coisa que te tenha dado? será que guardaste pelo menos uma palavra do que eu te disse? porque é que eu ainda pergunto?
tu dizias que adoravas as minhas palavras, que eu era única. eu sabia perfeitamente que não era a luz do teu dia como me descrevias, que não era o teu sol, mas eu não vou mentir, eu gostava de ler isso. tinhas orgulho em mim e eu sentia-te presente quando sabias não poder falhar.
perdi medos, pus de parte dúvidas, receios. ninguém há-de perceber o porquê de te ter sorrido como sorri. há muito tempo que não uso esta expressão, e nunca te a disse:
«estás a ver um puzzle? é constituído por diferentes peças, eu tenho umas, tu as outras, e juntos completa-mo-lo»
eras o meu oposto, eras o que me faltava para ter equilíbrio. os medos e receios só desapareceram porque de uma maneira ou de outra o teu sorriso não me deixou mais chorar.
a vontade que tinha todos os dias de te abraçar, e o quão bem me sabia quando eras tu a pedir um abraço, a dizer que me amavas. respirava umas quantas vezes até acreditar que ainda havia alguém a olhar para mim e sentir orgulho, respeito e carinho.
tu olhavas para mim e os teus olhos sorriam.
os sonhos? será que te lembras de alguma coisa com essa palavra?
para nós tinha dois, ridículos, mas tudo se resumia em dois sonhos.
combinámos um dia morar no mesmo lugar, não te lembras pois não? ainda hoje me rio de pensar nisso. falávamos de como seriam as nossas conversas à noite, do que faríamos antes de ir cada um para a sua casa. eram conversas que se eu pudesse nunca teria terminado.
aprendi que as coisas não podem ser como queremos, apesar de haver um lugar onde tudo se torna possível: no coração de quem nos ama.
«dorme bem amor, espero que tenhas bons sonhos, e que neles vejas tudo o que queres viver porque, quando acordares, estarei aqui para te ajudar a torná-los realidade.»
e de seguida, o desnecessário mas sempre sentido,
o «amo-te muito» que te dizia sempre.
tudo o que te contei de mim? é tudo o que tenho. as forças que me davas tornaram-me uma pessoa que eu só conseguia ser contigo do meu lado.
«tu és forte, ultrapassas tudo isto»
«vou agora dormir, estava a pensar no quanto te amo»
não gostas de me ver sofrer? acho que não me lembro de ter estado pior do que estou agora, e o motivo somos nós, ou o facto de já não estarmos ligados como peças desse puzzle.
«por muito que haja tudo isto que gosto em ti, ou até em mim, há algo que é maior que isso. eu gosto de nós.»
por muito que escreva vou sempre esquecer de referir que amo o teu sorriso, que amo mexer no teu cabelo e nas tuas orelhas só porque sei que odeias, que adoro imitar as tuas expressões, que amo ver-te de verde e que nunca menti quando disse que era contigo que me sentia segura, de mão dada ou não. vou esquecer de dizer todos os traços de ti que aprendi a aceitar. fazem parte de ti, e o que faz parte de um irmão, faz parte de nós.
fui escrevendo e senti saudades, mas essas saudades não me fizeram chorar. essas saudades fizeram-me sorrir, sorrir no meio de tantas lágrimas, a cada parágrafo, a cada memória nossa fui sorrindo com mais vontade. é isso que eu quero guardar de tudo o que te digo, é esse sorriso que me deste, e que vou ter de aprender a usar procurando um brilho dos teus olhos nos meus que não perdura mais neste lugar.
hoje tudo caiu.
mas eu vou ter sempre vontade de te mandar uma mensagem a dizer:
«eu»
salsinha
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