5# alice
alice (resposta a 4#clara )
hoje trago comigo uma raiva tremida. perguntas: 'porquê tremida?'. eu respondo-te: porque tenho receio de a sentir. sinto que tudo me fugiu. o tempo já não espera que eu chegue para me aconchegar, a noite já não me guarda. agora tenho apenas medo. sinto-me desiludida comigo própria, porque agora quem me desilude faz parte de mim, faz parte de quem sou e de quem sempre me orgulhei de ser junto deles. mas hoje magoam-me, com atitudes egoístas, hipócritas, desumanas. já ninguém pensa no que posso vir a pensar.
hoje trago comigo uma raiva tremida. perguntas: 'porquê tremida?'. eu respondo-te: porque tenho receio de a sentir. sinto que tudo me fugiu. o tempo já não espera que eu chegue para me aconchegar, a noite já não me guarda. agora tenho apenas medo. sinto-me desiludida comigo própria, porque agora quem me desilude faz parte de mim, faz parte de quem sou e de quem sempre me orgulhei de ser junto deles. mas hoje magoam-me, com atitudes egoístas, hipócritas, desumanas. já ninguém pensa no que posso vir a pensar.
mas o que é que todo esse meu baralhado pensamento interessa quando já terminou o meu tempo? quando já não há volta a dar? eu já nem sofro, já não me sinto infeliz. já nem sequer sinto.
escrevo tudo com letras minúsculas com o receio de me fugir uma palavra que não quero realçar. porque hoje não sinto nada. porque hoje nada me conforta nem abala. fechei todas as portas, e deixei apenas a janela do meu coração entreaberta. tentei ouvir-me, como me aconselhaste a fazer. obrigada por todos os conselhos mas nada tem resultado. o problema não está nas tuas palavras alice, está em mim e na minha falta de vontade de me sentir viva.
já não sei se é isto que eu quero ser, já não sei se é mesmo isto que sou. só tenho uma certeza, a de ter fortalecido amizades, ter realçado amores, ter remexido em assuntos que não devia ter trazido do passado. tudo isto para me impedir de desistir. mas o tempo acabou.
alice, és o que me prende hoje ao meu passado, ao meu estado momentâneo de insatisfação, e ao que hei-de ser. só te peço, não desistas de me tentar acordar.
com muito amor,
Etiquetas: cartas à alice, clara